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Manifesto: O Que Não É Estratégia



Minha fascinação sobre estratégia vem de mais de XX anos atrás (para os curiosos, uns 40 anos pelo menos) quando eu assistia os filmes de sessão da tarde em uma rede de TV aberta. Filmes de guerra, os westerns (faroeste como o meu inglês da época permitia) ou os policiais.


Em todos eles aparecia a estratégia e os que faziam a estratégia de uma forma glamurosa. Gente que estava sempre querendo enxergar mais além. Preparando a grande “estratégia” que os levaria à vitória em qualquer cenário que fosse. Nas batalhas no Pacífico contra o exército japonês, na defesa dos fortes dos apaches ou simplesmente na identificação do assassino depois do banquete na mansão. A possibilidade de enxergar mais além, de colocar os atores no tabuleiro de acordo com a estratégia criada era o ponto fascinante, para mim.


Depois de graduado em engenharia mecânica e trabalhando em uma grande empresa como trainee fui em busca de minha oportunidade para ser estrategista.


Foi uma decepção em vários aspectos. Inicialmente porque não me passava pela cabeça que sobravam pessoas querendo ser estrategistas e faltavam posições para estrategistas. E depois porque sobrava pouco de estratégia para ser discutida por aqui. Tudo era decidido em algum lugar, mas sempre era um lugar bem longe daqui.


Como para bom entendedor um pingo é letra (e para mim já era uma frase). Vi que se por um lado uma porta se fechava, por outro lado uma janela se abria.


E eu pulei por esta janela e caí em um mar de oportunidades quando percebi que se sobravam estrategistas e faltavam posições para estrategistas, havia uma situação contrária para outra função ligada à estratégia.


Sobravam posições e faltava gente que quisesse entender uma estratégia já decidida e a traduzisse para os não estrategistas. E os não-estrategistas deveriam compreender a estratégia para pudessem escolhesse as melhores ferramentas, os melhores métodos, os melhores processos que poderiam transformar a estratégia em execução.


E por muito tempo, fiz exatamente isso. Entendia a estratégia, ajudava a traduzi-la e ajudava a executá-la. E com isso hipertrofiei meu músculo de execução.


A carreira continuou e fui mudando de empresas, galgando posições sem deixar o fascínio pela estratégia pelo caminho. E pouco a pouco passando a compreender melhor o que de fato significa estratégia nas empresas.


Com esse entendimento sendo aumentado a cada dia, e com as oportunidades que foram trazidas pelas posições que ocupei em minha carreira, finalmente cheguei a pensar estratégia, discutir estratégia e continuei a executar e auxiliar na execução da estratégia - com uma vantagem enorme em relação aos estrategistas que não trilharam o caminho da execução primeiro.


Faz alguns dias me deparei com um relato sobre o que fazer e não fazer na carreira. Pessoalmente acho que cada um desses relatos deveria vir com uma nota (disclaimer para ser posh) dizendo que tudo aquilo se aplica somente naquelas condições de tempo, temperatura e pressão e para aquela pessoa. E que toda a dica que aparecer deve ser utilizada com parcimônia e como referência, mas não é uma receita infalível para o sucesso.


Voltando à estratégia, o relato dizia que estratégia nada mais é que uma forma de resolver problemas e atingir metas. Não é.


Forma de resolver problemas e atingir metas é mais plano de ação que deriva de uma estratégia.


A estratégia deve ser discutida como uma etapa anterior. Os problemas e as metas a resolver e alcançar, respectivamente, serão em sua maioria determinados e identificados pela estratégia que a sua empresa escolher.


Se sua empresa decide que a linha de estratégia é manter sua base de clientes como a prioridade, e adquirir novos clientes como secundária. Ou que a estratégia é criar novos produtos para novos mercados e não é manter produtos existentes em mercados existentes, então os problemas que irão aparecer, as metas que surgirão, as ferramentas e os métodos para necessários para por a estratégia em curso serão diferentes.


A disciplina de Business Policy de Harvard na década de 1950 que influenciou e influencia o pensamento sobre a estratégia até hoje, tinha a clara intenção de preparar os novos gestores para os novos negócios. Fomentando uma perspectiva ativa para o crescimento destes negócios. Propondo uma análise deliberada e o mais racional possível do escopo de atuação da organização e integrando as diversas áreas para seguir por uma direção comum.


Facilmente se percebe que tudo isso é um convite para refletir sobre um pensar ativamente sobre as direções onde se quer levar a empresa, antes de pensar em resolver problemas e atingir metas.


Não pensar estratégia como estratégia é assumir o risco de submeter sua empresa a gastar tempo, recursos e pessoas em resolver problemas que não são os importantes para que ela tenha a chance de durar. É assumir o risco de tentar atingir metas que podem servir a nada.


Então resolver problemas e atingir metas é plano de ação. E ele vem sempre depois de uma discussão séria sobre a estratégia.


Finalizo dizendo que este não é um depoimento sobre o que funcionou para mim e que você deve repetir sobre execução e estratégia (eis o meu disclaimer). É antes de tudo um convite para conhecer melhor o tema e assim aumentar a probabilidade de sua organização ser durável e trilhar o caminho da transformação em direção à excelência.

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